terça-feira, 27 de maio de 2025

Pare de tentar encontrar nos estranhos aquilo que você tem de sobra em quem te ama de verdade

Há um vazio moderno que insiste em nos fazer olhar para fora antes de olhar para dentro. Procuramos em estranhos validação, conforto, carinho, presença, palavras doces e até a sensação de pertencimento. Buscamos em olhares desconhecidos um tipo de resgate que, muitas vezes, já está presente — ao nosso redor — nas pessoas que nos amam e que silenciosamente permanecem ao nosso lado.

A Ilusão da Conexão Instantânea

Vivemos em uma era onde tudo é imediato. Basta um toque na tela para iniciar uma conversa, receber um elogio, experimentar a ilusão de afeto. Mas essa agilidade emocional cria um paradoxo: quanto mais rápido nos conectamos com estranhos, mais rasa e instável se torna essa conexão. Trocas superficiais tomam o lugar de vínculos verdadeiros. Passamos a desejar aquela atenção nova, o frescor do desconhecido, mesmo que por trás disso só exista carência mal resolvida.

Quantas vezes não deixamos de responder a mensagem de quem se importa, enquanto investimos energia tentando conquistar quem mal sabe nosso nome completo? Quantas vezes ignoramos um abraço sincero da mãe, o carinho de um amigo, o convite leve de alguém que nos quer bem, só para buscar reconhecimento em pessoas que sequer enxergam nossa essência?

Amor não é ruido, é presença!

Quem te ama de verdade, muitas vezes não grita. Não manda mensagem todos os dias com emojis apaixonados, nem escreve parágrafos inspiradores nas redes sociais. Mas está lá. Sempre. Nos pequenos gestos: em ouvir você com atenção, em lembrar do seu café preferido, em respeitar seu silêncio, em segurar sua mão no momento exato. Amor real tem ritmo de cuidado, não de espetáculo.

O problema é que nos acostumamos a não valorizar o que está estável. Queremos o que brilha, o que surpreende, o que vem embalado com adrenalina emocional. Só que a estabilidade, o aconchego, a constância… são as bases de uma vida emocional saudável. E, muitas vezes, são oferecidas por quem mais nos ama — familiares, amigos antigos, parceiros fiéis, e até aquele amigo calado que sempre aparece quando mais precisamos.

Projeção: o erro mais comum da carência

Muitos buscam em estranhos aquilo que falta dentro de si. Projetam no outro a esperança de serem vistos, acolhidos e validados. O problema é que um estranho não tem compromisso com suas dores. Ele não conhece sua história, seus traumas, seus medos mais íntimos. E o que começa como um alívio rápido, muitas vezes termina em mais frustração.

Ao invés disso, olhar para quem sempre esteve ao seu lado — mesmo que em silêncio — pode ser um verdadeiro ato de reconexão. Essas pessoas, que te acompanham em tua caminhada, já conhecem tuas sombras e mesmo assim te querem por perto. Esse tipo de amor é o que sustenta, não o que confunde.

A beleza do amor familiar e dos amigos

Às vezes, tudo que precisamos é voltar o olhar para os amores que não precisam de filtro, nem de aprovação externa. Um almoço de domingo com a mãe. Uma ligação boba com aquele amigo de infância. Um ombro onde se pode chorar sem medo de julgamento. Esses são os amores que curam, que sustentam, que transformam. E são, também, os mais negligenciados em tempos onde likes e curtidas parecem mais importantes do que vínculos reais.

Conversar com estranhos pode ser legal, mas isso jamais substitui o amor e a parceria daqueles que já te conhece há tempos

Essa não é uma crítica ao novo, ao diferente, ao arriscar-se em relações. Mas é um lembrete: não despreze o que é teu por direito emocional. Não despreze quem te ama por inteiro em troca de migalhas emocionais de alguém que não faz questão da tua presença.

Pare de encontrar em estranhos o que você tem de sobra em quem o ama. Porque, muitas vezes, o colo que você procura em outro já está esperando por você no sofá da casa da sua avó, no sorriso da sua irmã, no silêncio cúmplice do seu melhor amigo.

Voltar para casa, em todos os sentidos, pode ser o reencontro mais espiritual e curador da sua vida.